cartaz
comentários
coluna
secção informativa
favoritos
arquivo

index

Ossos
Realizado por Pedro Costa
Portugal, 1997 Cor - 100 min. aprox.
Com: Nuno Vaz, Maria Lipkina, Vanda Duarte, Isabel Ruth, Inês de Medeiros, Zita Duarte

«Ossos» centra-se num casal de jovens, residentes num ghetto - o Bairro das Fontaínhas, em Lisboa -, que adquirem a condição depais no início do filme. Ele (Vaz) deambula com o filho pela cidade, tenta mendigar e depois acha que o melhor é vender o filho. Ela (Lipkina) parece sentir muito a falta dele(s?), ao ponto de ter uma certa tendência para deixar o gás aberto. Uma enfermeira (Ruth) parece querer ajudar toda a gente que lhe aparece pela frente.

«Ossos» não mostra propriamente a vida destes desfavorecidos. Mostra-nos o cenário, mostra-nos os personagens a andar de um lado para o outro, mas não os mostra, de facto, a tentar suportar o dia-a-dia. A aproximação é muito abstracta. O filme de Pedro Costa parece estar apenas fascinado com o olhar dos personagens. Poderá não o ser na realidade, mas, visto o filme, fica a sensação de que será constituído maioritariamente por planos dos actores olhando fixamente um ponto, situado quase sempre a cerca de 45 graus por detrás da câmara. O realizador possivelmente iniciava as filmagens dizendo "acção... olhem para aqui." Mas, porque são aquelas pessoas tão introspectivas, em que pensam elas quando assim se deixam ficar a olhar? Os diálogos são muito escassos, e não têm a particularidade de exprimir algo por poucas palavras. Na realidade, não parecem exprimir nada de especial, e, quem sabe, o filme fosse mais sugestivo, no plano artístico, se se tivesse optado pela ausência total de diálogos.

Não será pelo conteúdo que se conseguirá apreciar o filme, mas provavelmente pelo tratamento artístico, que não se nega. Apenas não se aprecia. O cinema português tende a prescindir de argumentos complexos, lógicos e desenvolvidos, e a pegar em conceitos apresentados pela visão artística do realizador/autor. Apesar de o aparentar, o filme preferiu não pegar em questões concretas, limitando-se a um exercício de estilo que terá os seus apreciadores - ao que parece muitos -, mas que poderá não passar disso. Pode haver quem se emocione com um travelling que acompanha Nuno Vaz durante bastante tempo, sem cortes, e pode haver quem considere que não passa de um travelling que acompanha Nuno Vaz.

Emmanuel Machuel ganhou o prémio para a melhor cinematografia no Festival de Veneza.

**

Com «Ossos» foi apresentada a curta metragem «Parabéns».

Parabéns
Realizado por João Pedro Rodrigues
Portugal, 1997 Cor - 15 min.
Com: Eduardo Sobral, João Rui Guerra da Mata

Como outras curtas-metragens portuguesas («Dois Dragões», «O Apartamento»,...), «Parabéns» parece nascer porque há um plano qualquer de apoio, nos termos do qual se pode fazer um filme, e não o inverso, i.e., haver uma ideia interessante e depois procurar formas de financiamento, quaisquer que elas sejam. O filme passa-se no apartamento de um arquitecto, que faz 30 anos naquele dia e que passou a noite com um jovem dez anos mais novo, muito sugestionável pelo Dragon Ball Z. Não tem nenhuma ideia particularmente original para expor, nem apresenta nenhuma novidade estética, apenas duas pessoas durante 15 minutos num apartamento, a falar, a ir à casa de banho, a brincarem com o gato, etc.

*1/2
classificações