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Nadja
Realizado por Michael Almereyda
EUA, 1994 Cor - 92 min.
Com: Elina Löwensohn, Martin Donovan, Peter Fonda, Suzy Amis, Galaxy Craze, Karl Geary, Jared Harris, David Lynch, Nic Ratner, Jack Lotz, Isabel Gillies, Jose Zunga

Nadja (Löwensohn) é uma vampira romena que vive em Nova Iorque, onde caça vítimas pelos bares. É assistida pelo seu servo Renfield (Geary). Entretanto, Van Helsing (Fonda), um homem considerado alucinado pelo sobrinho, acabou de matar Drácula, procurando agora o rasto dos seus dois filhos, Nadja e um irmão gémeo, Edgar (Harris), que está a morrer e é tratado por uma enfermeira chamada Cassandra (Amis), mas que sofre do Complexo de Enfermeira, i.e., apaixonou-se pelo paciente. Jim (Donovan), o sobrinho de Helsing, vive um difícil momento da sua relação com a esposa, Lucy (Craze), que começa a andar pelos bares e acaba por encontrar Nadja. Os problemas poderão ter diversas fontes, mas parece que a única solução está relacionada com a jovem vampira e com uma estaca de madeira.

Almereyda, que também é autor do argumento, cozinha uma história de vampiros que mistura os nomes dos personagens do Drácula de Bram Stoker e de alguns políticos de leste, com um certo ambiente de filme negro mais frequente em tempos idos. Da obra de Stoker mantém-se a estrutura base. Mas as referências no filme são mais recentes. David Lynch é produtor executivo e surge como funcionário da morgue. Esta sequência é em tom de piscadela de olho; um som de fundo, que podia ser tirado de um dos seus filmes, acompanha o lento aproximar da câmara. Outra referência será Hal Hartley, não só porque temos dois dos actores habituais dos seus filmes - Elina Löwensohn e Martin Donovan (que também estiveram juntos em «Amateur») -, mas porque o tom é do mesmo distanciamento emocional que é quase marca registada nos seus filmes (mas também, de certa forma, nos de Lynch), e que se chamou de "Deadpan Noir" ("Dead-pan" = face inexpressiva). Hartley habituou-nos à representação contida dos actores, como se preferissem deixar a maioria das reacções e emoções para o espectador (e para as pessoas detrás das câmaras?). Em «Nadja» essa é a linha seguida, apesar de Löwenshon quase se rir a certa altura.

«Nadja» é um filme de vampiros cruzando-se com uma reunião de família. O guião lança o reencontro, por uma extraordinária coincidência, de familiares que se julgavam afastados, e desvenda outro parentesco, num tom algo telenovelesco (e com estas rimas não se admirem com os nomes dos personagens romenos). Tudo num tom de perfeita naturalidade. Quase um "Ponto de Encontro" intelectual.

Algumas sequências, sugerindo o ponto de vista dos vampiros, utilizam uma câmara vídeo de plástico, de brinquedo (Pyxelvision), e o preto e branco geral parece ser mesmo o ideal para a temática vampiresca. Almereyda sabe tratar adequadamente o argumento que tem entre mãos (até porque foi daí que surgiu), e compõe cada cena cuidadosamente, jogando com imensos contra-planos com focagem e desfocagem de vários elementos em posições de profundidade diferente. A câmara parece estudar delicadamente a beleza enigmática de Löwensohn, deslizando numa rua húmida e escura com música dos Portishead em fundo.

«Nadja» é uma experiência estimulante, particularmente para quem aprecia o universo de Lynch e o estilo narrativo de Hartley. Quem detestar o primeiro, e ficar impassível perante os filmes do segundo, é preferível que não se dê ao trabalho.

Música original de Simon Fisher-Turner, compositor habitual do falecido Derek Jarman.

***1/2
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