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Flugten Fra Jante/Misery Harbour
Realizado por Nils Gaup
Dinamarca/Suécia/Canadá/Noruega, 1999 Cor - 102 min. Anamórfico.

Com: Nikolaj Coster Waldau, Anneke von der Lippe, Stuart Graham, Graham Greene, Bjørn Floberg, Hywel Bennett, Margot Finley, Stig Hoffmeyer, Lars Göran Persson, Mats Helin

Espen (Waldau), um escritor Dinamarquês, é confrontado por um rival, com o boato de que algumas coisas que ele escreve não são ficção. Num dos seus livros, Espen descreve como cometeu um crime na sua juventude, mas, na vida real, joga com a especulação entre a realidade e a ficção. A verdadeira história irá ser contada, em flashback, a Jenny, por quem se apaixona, começando pela juventude do escritor numa pequena aldeia dinamarquesa. O seu desejo de fuga irá levá-lo a embarcar a bordo de um navio com destino à Terra Nova.

O realizador Norueguês Nils Gaup, cujo filme «Pathfinder» de 1987 foi nomeado para um Oscar de melhor filme estrangeiro, conduz um filme transnacional, que começa na Dinamarca, termina na Noruega e decorre, durante o flashback que ocupa a maior parte do tempo narrativo, no Canadá.

«Misery Harbour» apresenta-se como um drama de época - a acção "presente" situa-se no início dos anos 30 -, com um personagem principal que tenta redimir-se com o seu passado, de modo a ser aceite pela mulher que tenta conquistar. Pouco depois de conhecermos Wakefield (Graham), o filme transmuta-se em thriller com contornos próximos do género "psicopata assassino". Esse segmento parece quase um «Hitcher», de há 50 anos atrás, o que acaba por desviar a nossa atenção da relação que vemos em momentos curtos e cujo desfecho aguardamos para o final; é como se existisse um filme diferente dentro do outro filme. Wakefield parece ser o vilão só porque alguém tem de assumir esse papel, só para chatear, seguindo Espen sem qualquer razão aparente. Na sua primeira ocupação na Terra Nova, há uma pequena intriga romântica envolvendo-o, a duas jovens e a Wakefield, mas o momento que propele a mudança de cenário é artificial, ao ponto de parecer servir apenas para castigar o personagem e o espectador, que, nesse momento se tinha interessado pela relação do personagem com uma das raparigas.

Os confrontos entre os dois inimigos, ou a perseguição de um vilão forte a um herói fraco, sem que as motivações de um ou de outro venham à tona, acaba por resultar num distanciamento emocional do espectador a partir de metade do filme. A estrutura parece ser composta por segmentos cosidos com pouco cuidado, como se se tratasse de um filme-piloto, recheado de material para posterior desenvolvimento em episódios de um série de TV, não invalidando que se tivesse de inserir uma conclusão na versão cinematográfica.

Apesar de interpretações razoáveis, boa caracterização de época, um ou outro momento de tensão bem construído e de uma fotografia scope cuidada, «Misery Harbour» peca pelo argumento segmentado e sem um fio condutor forte. Estas fraquezas revelam-se no (não) aceitarmos que Jenny possa também interessar-se, ao ouvir a mesma história que nós.

**
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Publicado on-line em 28/5/00.