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Os Predadores de Nova Iorque/Mimic
Realizado por Guillermo del Toro
EUA, 1997 Cor - 105 min.
Com: Mira Sorvino, Jeremy Northam, Alexander Goodwin, Giancarlo Giannini, Charles Dutton, Josh Brolin, Alix Koromzay, F. Murray Abraham, James Costa

Uma epidemia - ou epedemia, como o tradutor pareceu preferir, o que poderá estar relacionado com a política da sala, cujos bilhetes identificavam o filme como "perdadores…" – é responsável pela morte de centenas de crianças, em Nova Iorque, e a única forma de a deter é atacar os insectos que transportam a bactéria: as baratas. Susan Tyler (Sorvino) é a entomologista responsável pelo Projecto Judas, destinado a criar uma criatura rastejante que destrua as baratas através da manipulação do DNA de várias espécies de insectos. Os insectos são concebidos de forma a terem um período de vida reduzido a uma geração (esterilidade, gene suicida, etc.) Três anos depois, conclui-se que algo sobreviveu e que uma espécie conseguiu adaptar-se e que pode ser responsável por algumas mortes.

Del Toro celebrizou-se com «Cronos» (1992), uma fantasia sobre a vida eterna em que os vampiros eram muito diferentes dos tradicionais. Esse filme mexicano venceu o Fantasporto em 1994, o que, como sempre, foi suficiente para que fosse catapultado para uma exibição comercial em sala. (Bom, esqueçamos a parte final da última frase e passemos adiante.) Não se poderia nunca comparar um filme de estúdio americano com uma obra independente e "modesta", a qual é também bem mais consistente e interessante do que este «Mimic», que agora se estreia entre nós. Infelizmente a acessibilidade dos filmes não é directamente proporcional à respectiva qualidade.

«Mimic» não é um mau filme, nem um fracasso de qualquer espécie, admitindo-se que se tenha executado algo próximo do que se pretendia desde a génese do projecto. Possivelmente com retoques na parte final, mas todos os filmes com o rótulo made in Hollywood parecem padecer desse mal, ou talvez seja uma mera paranóia de quem faz a análise. É incorrecto dizer que não existam pontos de contacto com «Cronos». Afinal o agente disseminador no filme anterior era também um insecto. Um estranho insecto que operava um estranho aparelho, com uma estranha mecânica. Há, claro, quem ache «Cronos» um filme estranho, mas não é o nosso caso. Por este prisma parece ser extremamente errado dizer que não se podem comparar os dois filmes, mas enquanto num a criatura fornece a vida eterna, no outro limita-se a decepar pessoas.

Não é propriamente original que se camufle subtexto religioso em filmes de terror em que se combatem pragas, mas em «Mimic» tal não será um mero floreado. Do mesmo modo, é frequente que nestas temáticas o catolicismo seja chamado à baila (tendo em atenção que na América não é propriamente a religião dominante), mas tal parece ser uma marca registada de del Toro. Começa-se logo pelo nome dado à praga concebida para acabar com a praga original: Judas, o insecto que trai a sua espécie. Quem sabe haja um qualquer paralelismo com a redenção destas criaturas sobredesenvolvidas, quando se tornam predadores dos humanos. A cientista, católica, manipula os genes destes seres, alterando aquilo que Deus criou, criando uma espécie estéril. Mais tarde, somos confrontados com as suas tentativas de engravidar. Teria menos problemas se fosse judia ou muçulmana?

No que toca à componente de entretenimento, não se dará o dinheiro por mal gasto. Os efeitos especiais estão convincentes e não estão ali apenas para nos impressionar, uma vez que servem a narrativa e se ajustam a uma série de sequências com bons momentos de tensão. O cenário do metropolitano de Nova Iorque é particularmente adequado, possibilitando recônditos fechados, escuros e sujos, onde os personagens se podem rebolar. Num filme de terror/thriller a atmosfera é meio caminho andado e nesse capítulo «Mimic» não falha, graças à competência técnica do cineasta.

Existem algumas pontas por desatar, aqui e ali, como a amiga que parece desaparecer do guião, ou o miúdo sobredotado (?) cuja função parece ter ficado por desenvolver. A sua capacidade para imitar tudo parece reduzir-se a bater duas colheres, ou talvez o pai estivesse a exagerar. A parte final puxa um pouco mais pela nossa credulidade, mas deve ter sido negociada em troca da morte de alguns personagens cujo escalão etário normalmente é desculpa para os poupar a uma morte "natural".

«Mimic» recomenda-se aos apreciadores do género, mesmo desconfiando que os restantes nem sequer o considerassem. Excepto se quisessem ver uma Mira Sorvino imunda, depois de se esfregar numa série de porcarias de diferentes proveniências orgânicas. (Não espere pela versão em Smell-O-Vision.)

***1/2
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