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Um Mal Nunca Vem Só/Lock, Stock and Two Smoking Barrels
Realizado por Guy Ritchie
Reino Unido, 1998 Cor - 106 min.

Com: Jason Flemyng, Dexter Fletcher, Nick Moran, Jason Statham, Steven Mackintosh, Nicholas Rowe, Nick Mark, Charlie Forbes, Vinnie Jones, Peter McNicholl, P.H. Moriarty, Frank Harper

Quatro amigos Londrinos vêem-se em sarilhos quando um deles, Eddy (Moran), perde uma grande quantia de dinheiro num jogo de poker contra Hatchet Harry (Moriarty), auto-intitulidado de o "rei da pornografia" - um criminoso que se rodeia de personagens ameaçadores como Barry the Baptist (McLean), o seu braço direito, e Big Chris (Jones), cobrador de dívidas difíceis. Por um acaso do destino, o grupo ouve o plano dos vizinhos criminosos, liderados por Dog (Harper), para roubar uns jovens com ar de estudantes classe-média, que cultivam marijuana no quintal e cuja produção se destina maioritariamente a um traficante de droga local (Vas Blackwood). Entretanto, Barry solicita a dois marginais de segunda que roubem para Harry um par de mosquetes de grande valor.

«Lock Stock and Two Smoking Barrels» não é tão confuso como possa parecer à primeira análise. Apenas tem imensos personagens, os quais, aliás, interagem no seio da intricada narrativa, de forma extremamente natural. A premissa - "ladrões trapalhões" - e as referências, necessariamente apontadas por quem se debruce sobre o filme e tenha de o definir em meia dúzia de linhas - Tarantino, «Trainspotting», etc. -, poderão colocar o potencial espectador de pé atrás. As referências não serão totalmente desajustadas, de certo ponto de vista, mas convenhamos que parece ser difícil nos dias que correm, não usar o "nome T" ao falar de um filme "negro, violento e com tiros". Por outro lado, a sequência inicial facilmente remete para o filme de Danny Boyle (como se não bastasse serem ambos produtos Britânicos, "jovens" e "na moda"). Mas podem pôr o pé para a frente de novo; «Lock, Stock…» sustem-se perfeitamente por si só. Por outro lado, Guy Ritchie nega o mais óbvio, insistindo antes ter sido inspirado por «The Long Good Friday/A Sexta Feira Mais Longa» (1981), de John Mackenzie, com Bob Hoskins e Helen Mirren, mas também P.H. Moriarty, o vilão de serviço no filme em análise.

O filme de Ritchie (com um "excelente" título para o mercado de vídeo nacional) provavelmente não pretenderia ser revolucionário, quanto à técnica ou quanto ao conteúdo. Nota-se a experiência prévia do realizador (e parece que dizer que alguém fez clips musicais ou publicidade tem de ser quase sempre um modo de ilustrar defeitos), visualmente, mas também somos atingidos pelo que ele sente pela miríade de personagens apresentados. Ele gosta dos vilões e dos "heróis" e esforça-se por torná-los convincentes perante nós. Tal não funcionará completamente, porque Ritchie está mais preocupado em manter o tom de comédia à superfície. Isto traz vantagens para os mais sensíveis: a violência não é extrema, procura-se mantê-la fora do enquadramento e os "choques" que maior efeito produzem são de humor.

Em relação à referência "obrigatória", existe também uma semelhança quanto ao género. Tal como «Reservoir Dogs» (1992), «LS&TSB» é um filme "de homens", onde os personagens femininos se reduzem a um mero comic relief (e algo adormecido). Tal não significa que o filme não possa agradar ao público feminino. E, vendo bem, antes pelo contrário.

***1/2
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Publicado on-line em 5/6/99.