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Irma Vep
Realizado por Olivier Assayas
França, 1996 Cor - 97 min.
Com: Maggie Cheung, Jean-Pierre Léaud, Nathalie Richard, Antoine Basler, Nathalie Boutefeu, Alex Descas, Dominique Faysse, Arsinée Khanjian, Bernard Nissile, Olivier Torres, Bulle Ogier, Lou Castel

René Vidal (Léaud), um realizador de cinema longe dos seus tempos áureos, tem nas mãos o remake da série «Les Vampires» (Louis Feuillade, 1915). Considerando que nenhuma actriz francesa poderia substituir Musidora, no papel de Irma Vep, ladra de jóias, decide utilizar Maggie Cheung (a própria), célebre em filmes de acção made in Hong Kong. Cheung, algo perdida - não falar francês não ajuda -, procura dar corpo à visão de Vidal, levando muito a sério o seu papel de criminosa mascarada, vestida em latex colado ao corpo. Mais ninguém parece acreditar nas capacidades de Vidal, e o próprio está à beira de uma depressão nervosa. Cheung tem ainda de lidar com os avanços de Zoé (Richard), do guarda-roupa, e com as intrigas da assistente de produção, Maité (Faysse), no meio de uma rodagem completamente caótica.

«Irma Vep» é um filme-sobre-um-filme, que deve muito ao fascínio de Olivier Assayas pela actriz de Hong Kong, que conheceu num Festival de Veneza. Ao pegar no projecto, Assayas procurou outras actrizes orientais, por considerar que Cheung não estaria interessada num filme francês de baixo orçamento. Quando voltou a encontrá-la, em Hong Kong, terá pensado que sem ela não haveria razão para fazer o filme, o que nos remete para uma série de paralelismos com o realizador René Vidal, já que ambos parecem justificar da mesma forma os seus filmes. Quando este aponta para as coreografias de Cheung em «Dongfang San Xia/The Heroic Trio», ela diz-lhe que os duplos é que fizeram tudo. Ele não desanima; a sua graciosidade, a sua aura, são a inspiração.

A certa altura em «Irma Vep», Maggie Cheung é entrevistada por um jornalista (Basler), numa sequência que já alguém comparou ao diálogo entre Jean-Pierre Melville e Jean Seberg, no «A Bout de Souffle» de Godard. O personagem surge a atirar impropérios ao cinema francês, subsídio-dependente, feito pelos cineastas para eles próprios e para os amigos, e esquece-se da entrevista, enveredando por um monólogo venerando a força do cinema oriental (Basler é creditado como "Jornalista Que Gosta de John Woo"), perante o amolecimento do cinema nacional, chato, parado. O jornalista não está a expressar a "posição oficial" de Assayas, que não fez um filme de "acção" (a sequência mais movimentada é no filme dentro do filme dentro do filme), por muito que admire a indústria que produziu Maggie Cheung, antes parece estar a atacar os defensores fanáticos de uma cinematografia que também tem a sua moda (mesmo em França há edições legendadas de filmes orientais), particularmente estimulada por jornalistas e críticos franceses. Quando Schwarzenegger e John Woo são mencionados de seguida para exprimir o cinema "com vida", a seriedade não pode ser absoluta.

É fácil de ver que a presença da actriz de Hong Kong (também conhecida por Cheung Man-Yuk em cantonês e Zhang Manyu em mandarim), que ganhou fama em filmes de Wong Kar-Wai, Stanley Kwan ou Tsui Hark, é o centro vital de «Irma Vep». Assayas disse-lhe para não representar, para ser ela própria. Vidal diz-lhe o mesmo. Brilha, perdida, no meio da equipa de produção, ou à chuva depois de uma visita à "Americana" (Arsinée Khanjian, esposa de Atom Egoyan). O filme em si, não brilha tanto como o fato de latex. A montagem de René Vidal, apresentada no fim com a sequência dos créditos manuscritos, é uma curiosidade.

A banda sonora inclui Ali Farka Toure, com Ry Cooder, "Bonnie and Clyde" de Serge Gainsbourg, pelos Luna e "Tunic (Song for Karen)" dos Sonic Youth, ilustrando, talvez, o destino do realizador (o Vidal): "you are never going anywhere"...

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