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Vidas Privadas/In the Bedroom
Realizado por Todd Field
EUA, 2001 Cor – 131 min. Anamórfico.

Com: Sissy Spacek, Tom Wilkinson, Nick Stahl, William Mapother, William Wise, Celia Weston, Marisa Tomei, Karen Allen

Uma pequena vila piscatória do Maine, EUA. O adolescente Frank Fowler (Stahl) namora com Natalie (Tomei), alguns anos mais velha do que ele, com dois filhos, e recentemente separada do marido, Richard (Mapother), filho de uma família influente na comunidade. Os pais de Frank, Matt (Wilkinson) e Ruth (Spacek) preocupam-se com a situação e com a agressividade demonstrada por Richard – que insiste com Natalie para que a família se reintegre – tentando, no entanto, não interferir na vida do filho, que declara que a relação não é séria. Mas, entretanto, chega a oportunidade de deixar a vila e partir para a universidade.

«In the Bedroom» têm recebido rasgados elogios pela intensidade dramática da sua história, que circunda em redor de um casal que tenta lidar com uma tragédia familiar, e, sobretudo, pelo trabalho de Tom Wilkinson e Sissy Spacek, nomeados (hoje, 12 de Fevereiro) para os Oscars de Melhor Actor e Melhor Actriz. A obra de Todd Field é também candidata a Melhor Filme e Melhor Argumento Adaptado, tendo Marisa Tomei sido nomeada na categoria de Melhor Actriz Secundária. O título do filme remete para uma situação ilustrada com lagostas: se entram três ao mesmo tempo numa armadilha, uma delas pode-se revoltar e atacar uma das outras (dois machos para uma fêmea, deduz-se).

A premissa do filme não é particularmente original, tal como o não são as suas personagens. Não é a primeira vez – nem será certamente a última – que vemos um indivíduo como Richard Strout, típico “redneck” de uma pequena comunidade, que conduz uma carrinha de caixa aberta, é filho do homem mais importante da terra, e traz sarilhos a um jovem inteligente e culto, universitário ou que para lá caminha, que se atreve a aproximar-se da “sua” mulher (no caso as aspas são facultativas). O desenrolar da história foge um pouco às convenções, uma vez que passamos a seguir o modo como os adultos lidam com a situação, deixando os jovens como elemento secundário ou motor da trama. É aqui que «In the Bedroom» se destaca de outros dramas familiares de temática similar, tornando-se um drama maduro, mais adequado para um público adolescente e adulto.

A direcção de Field distancia-se do material, na sequência de um conceito em que o realizador deve gerir o argumento e os actores, mantendo uma posição passiva, quase de mero observador. É certo que Spacek e Wikinson levam o filme em frente praticamente sozinhos, mas a “imparcialidade” do realizador, que tenda conferir um tom apessoal e um emblemático realismo dramático à sua obra, sente-se regularmente numa espécie de “ausência forçada”. Por oposição a certas obras mais “sérias” de Spielberg, onde a presença do realizador se mostra a toda o momento, parecendo dizer “vejam como o material é social e historicamente relevante”, em «In the Bedroom» temos um realizador que, de tempos a tempos, nos chama a atenção e diz “vejam como tenho as mãos atrás das costas; isto é tudo muito natural”.

Este rumo narrativo que se procura colocar à distância do “artificialismo” de certos thrillers dramáticos, é de certa forma traído com o terceiro acto do filme, onde temos algo que se assemelha mais a um thriller, com uma espécie de suspense, e em que se nos apresentam duas situações seguidas em que se fabricam leves “surpresas” com base em reacções de personagens, destinadas a colocar leves sorrisos na audiência. Apesar de todo o tempo do filme – 2 horas e 11 minutos, que parecem bem umas 2 horas e 30 – a caracterização das personagens fica insuficientemente apurada e o conflito entre o casal pouco sustido e muito breve, para que possa deixar marcas. Esta duração um pouco excessiva é obtida também devido à manutenção de vários segmentos de diálogo casual, sem grande relevo para a acção, quem sabe a título de “subtileza” narrativa, reforçando o pendor de “fatia da vida real”. (Suponho que a necessidade dos quatro consultores em lagostas creditados decorra da preocupação com o “real” ou talvez um ou mais sejam cozinheiros, creditados de modo diferente por razões fiscais.)

O distanciamento do realizador parece notar-se também na composição, que demonstra subaproveitamento do espaço scope. Um filme mais intimista pode perfeitamente recorrer ao ecrã mais largo, tal como um filme de acção pode funcionar no mais constrito enquadramento 1.85:1, mas Todd Field parece ter-se limitado a colocar a câmara em frente dos actores. Uma questão “técnica” relegada para segundo plano ou uma exigência da produção de filmar de modo a que se encha tanto o ecrã de cinema como o da TV (4:3), sem grandes perdas. A fotografia de Antonio Calvache também deixa muito a desejar, apresentando o pior do processo Super35: demasiado grão, interiores e fotografia nocturna com fraca definição. Isto pode ser agravado por focagem imperfeita (como aconteceu no Saldanha Residence).

**1/2
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Publicado on-line em 12/02/02.