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In & Out/Dentro e Fora
Realizado por Frank Oz
EUA, 1997 Cor - 90 min.
Com: Kevin Kline, Joan Cusack, Matt Dillon, Debbie Reynolds, Wilford Brimley, Bob Newhart, Tom Selleck, Deborah Rush, Lewis J. Stadlen, Gregory Jbara, Shalom Harlow

Na pequena cidade de Greenleaf, Indiana, dias antes do seu casamento com a namorada de longa data, Emily (Cusack), Howard Brackett (Kline) assiste atónito ao discurso de aceitação de um Oscar por parte de um seu antigo aluno, Cameron Drake (Dillon), que lhe agradece a inspiração para o seu papel de soldado gay. Brackett procura afirmar a sua heterossexualidade, enquanto enfrenta os olhares da comunidade, bem como alguma discriminação. Os media procuram-no, mas só o repórter Peter Malloy (Selleck) quer dar continuidade à história. O casamento de Brackett será uma forma dele provar que é um "macho man" e de manter o emprego.

Com uma premissa claramente inspirada no discurso de Tom Hanks na cerimónia dos Oscars de 1994 (onde recebeu o prémio para melhor actor por «Philadelphia»), agradecendo a um antigo professor gay, «In & Out» é uma bem sucedida comédia que joga com alguns conceitos de masculinidade e de respeitabilidade social. A comunidade rural é o um meio ideal para o cenário, devido às esperadas reacções de toda a gente que conhece o personagem central. E em Greenleaf toda a gente conhece o professor Howard Brackett.

O trabalho de Kevin Kline é muito eficaz, e não conseguimos discernir se o seu personagem é mesmo homossexual ou se apenas é assim visto pelos outros, depois do discurso de Drake nos Oscars, e se se comporta de certa forma ao tentar precisamente evitar esses comportamentos (um pouco como o Faulty de John Cleese a concentrar-se para não falar na guerra, perante os clientes Alemães). Frank Oz comanda a narrativa de forma sábia (ou não tivesse ele já sido Yoda) e consistente (pelo menos até a conclusão se aproximar). Existem piadas individuais passíveis de provocar grandes momentos de jocosidade, e muitas referências inspiradas, para além da presença óbvia dos Village People na banda sonora e do "fantasma" de Barbra Streisand. Aliás, uma das linhas de diálogo envolvendo Streisand foi lamentavelmente censurada na legendagem. Não é mau só porque é censura, mas também porque aniquila totalmente o efeito cómico e o climax do diálogo da cena em questão. E, num filme sobre homossexualidade, ser-se incapaz de adaptar convenientemente "to come out" (expor-se, assumir-se enquanto gay), e sair (trocadilho não intencional) com "fugir" por diversas vezes, terá muito que se lhe diga. Tradutor homofóbico? O que pensará a ILGA portuguesa sobre este assunto?

«In & Out» tem detalhes que ficam por esclarecer, mas nunca pretende ser profundo e não nos importamos muito com tais falhas. Uma das questões que nos podem assolar o espírito é o que levou Cameron Drake a dizer com segurança que o seu professor era homossexual. Um exemplo das picuinhices onde não vale a pena entrar é um clip de Oscar que mostra o final do filme, o que nunca sucederá (e clips em letterbox também não se mostram em 99% dos casos), mas o efeito cómico que essas imagens provocam justifica-o inteiramente. Nessa sequência, é um prazer ver os actores a esforçarem-se por representar mal, dizendo linhas cuidadosamente mal escritas. Brackett também afirma, no dia seguinte, ir casar dali a três dias. Os Oscars são sempre à Segunda-feira, e ele casa no Domingo, cinco dias depois e não três. O que é uma falha menor, mas, neste caso, totalmente desnecessária. A IMDb refere que se vê milho muito crescido para finais de Março e que não é normal que alunos terminem o ano lectivo nessa altura. Convenhamos que o milho é algo que a maioria dos espectadores sabe que existe todo o ano em latas, e que cerimónias de graduação podem ser quando um Homem quiser.

Onde «Dentro e Fora» verdadeiramente escorrega é na sequência populista, próxima do final. Há coisas demasiado vistas e das quais podíamos ser poupados, particularmente quando já contribuem para que alguns filmes de Frank Capra estejam demasiado datados. O "contágio" das massas, de efeito cómico reduzido passado alguns segundos, procura caminhar para uma conclusão em que "nós" somos todos boas pessoas (tolerantes, etc.) bem lá no fundo, mas – tal como nos tais filmes de Capra – também funciona pelo lado negativo, i.e., as massas tanto podem linchar como aplaudir alguém, conforme meia dúzia de vozes espalhadas no grupo clamem por condenação ou solidariedade. No meio da paródia levantam-se algumas questões sérias e talvez Oz devesse ter-se afastado totalmente delas. Os filmes não precisam de ser claramente "educativos", e tal só tem prejudicado bons argumentos, por se ter de atentar contra a lógica das coisas.

***1/2
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