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O Futuro Radioso/The Sweet Hereafter
Realizado por Atom Egoyan
Canadá, 1997 Cor - 110 min. Anamórfico
Com: Ian Holm, Maury Chaykin, Gabrielle Rose, Peter Donaldson, Bruce Greenwood, David Hemblen, Brooke Johnson, Arsinée Khanjian, Tom McCamus, Stephanie Morgenstern, Earl Pastko, Sarah Polley, Alberta Watson, Caerthan Banks

Um advogado, Mitchell Stephens (Holm), chega a uma pequena cidade, pouco tempo depois de um acidente com o autocarro da escola. A maioria da população tem a perda de um filho para chorar. O advogado afirma que tem de haver um responsável pelo trágico acidente, provavelmente a empresa construtora, que poderá ter querido poupar num parafuso. Aparentemente, apenas um pai - Billy Ansel (Greenwood) - parece rejeitar a participação no processo colectivo, preferindo deixar as coisas como estão. Stephens vai precisar do testemunho da única sobrevivente, Nicole (Polley) agora confinada a uma cadeira de rodas.

«The Sweet Hereafter» desenrola-se em paralelo com o «Flautista de Hamelin», narrado por Nicole. Algo ou alguém, levou as crianças da cidade. Se, na fábula, o flautista leva as crianças devido à falta de pagamento da aldeia pelo serviço de desratização, no filme apenas podemos estabelecer um paralelo simbólico. Afinal, quem está a levar os nossos filhos? A filha de Stephens é toxicodependente e parece querer culpar o pai por tudo. Este, quando fala com ela, poderá expressar a culpa que sente, pela desagregação da família. Talvez queira arranjar culpados, a todo o custo, para transferir a sua própria culpa, ou talvez esteja apenas interessado no terço da indemnização que ganhará se o processo prosseguir e for ganho.

Na aldeia, o que poderia fazer merecer o castigo do "flautista", para além da imoralidade que nos é mostrada em diversos flashbacks? O acidente com o autocarro surge como uma espécie de praga bíblica, que vem castigar a generalidade das famílias desequilibradas. Pelas infidelidades, por exemplo. Surge mesmo uma situação moral e socialmente contra-natura, cuidadosamente camuflada por Egoyan até um momento mais tardio. É essa situação que vai gerar o desenlace do filme, e que vai decidir a existência ou não do processo. Os filhos fazem pagar a geração anterior pelos seus pecados. A penalidade pode ser elevada, mas tudo indica que, a partir dali, o futuro será radioso, e que o que quer que tenha gerado o castigo já não se voltará a manifestar. Egoyan, aparentemente, usa a esposa (Arsinée Khanjian, aqui como Wanda Otto) em todos os filmes. Não há dúvida que a família é algo muito importante para ele.

A estrutura do «Futuro Radioso» poderá não ser a ideal, já que os flashbacks e flashforwards constantes, não flúem tão naturalmente como seria esperado e o andamento do filme ressente-se. A primeira metade sente-se demasiado lenta, e, a caminho do desenlace, já estamos um pouco desanimados. Egoyan terá pecado por ter preterido a funcionalidade e a clareza da narrativa, em troca de um conceito meramente estético, que aqui não resulta da melhor maneira. A junção gradual de imagens do passado servia a razão central do presente, em «Exótica», a anterior longa metragem do realizador. Aqui, não parece servir o que quer que seja.

***
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