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Hamlet/William Shakespeare's Hamlet
Realizado por Kenneth Branagh
EUA/Reino Unido, 1996 Cor - 231 min. aprox. Anamórfico
Com: Kenneth Branagh, Julie Christie, Billy Cristal, Gerard Depardieu, Charlton Heston, Derek Jacobi, Jack Lemmon, Rufus Sewell, Robin Williams, Kate Winslet

1996 foi um bom ano para William Shakespeare: "Hamlet" e "Romeu e Julieta" foram trazidos ao cinema - um dos mais eficazes meios de alcançar as massas do nosso século -, e, todos eles, através de propostas bastante interessantes. "Romeu e Julieta" foi transposto para o celulóide por Baz Luhrmann, em versão pop moderna, e por Lloyd Kaufman, e pela Troma, na versão desmembramento, kinky sex e body piercing (que é sempre de enaltecer, pelo valor arrojado da proposta estética - vd "Romeo & Juliet", "Tromeo and Juliet").

Kenneth Branagh não é novo neste cenário. Antes pelo contrário, é o cineasta moderno mais ligado a Shakespeare. Além deste "Hamlet", Branagh realizou "Henry V"(1989) e "Much Ado About Nothing"(1993). Outro dos seus filmes - "A Midwiter's Tale"(1995) - contava a história de um actor desempregado que queria montar a encenação de "Hamlet", numa pequena cidade britânica. Uma das mais interessantes propostas do cineasta continua a ser "Dead Again"/"Viver de Novo"(1991), uma revitalização do 'triller' manipulativo.

Branagh quis transpor todo o texto para o grande écran, e o resultado foi um filme com cerca de 3 horas e 51 minutos (quem anda a espalhar que tem 4 horas é só para desanimar o público). Essa quantidade de celulóide trouxe as inevitáveis preocupações da produtora e dos financiadores, preocupados com a recuperação do dinheiro, devido ao possível afastamento do público de um filme demasiado extenso. O realizador teve de fornecer a montagem de uma versão com cerca de duas horas, funcionado como back-up, em caso de flop da primeira versão. Como, felizmente, o flop não aconteceu eis-nos com a versão completa. Tal é sempre de louvar, depois das experiências desagradáveis com filmes como "Dune" (140 min., com uma versão de 190 para a TV de onde David Lynch retirou o nome dos créditos) ou "Era Uma Vez na América" (em que a América, precisamente, por muito tempo, apenas teve uma versão oficial com 90 minutos(!) a menos, e ainda hoje parece ter uma versão livre de algumas cenas violentas).

A transposição de "Hamlet", apesar de manter o tom de adaptação clássica, ao contrário de "Romeu & Julieta" de Luhrmann, não se prende ao estatismo teatral. Branagh deixa que as câmaras acompanhem a emoção dos personagens e que captem a magesteza dos cenários (mesmo os gerados e/ou trabalhados por computador).

O filme está repleto de actores de primeira linha a fazerem pequenos papéis, por um ou dois minutos no écran, como Gérard Depardieu, Robin Willians, John Gielgud ou Richard Attenborough.

"Hamlet" desenvolve-se com o dinamismo suficiente para que as quase quatro horas não sejam problemáticas de passar, dispensando-se mesmo o segundo intervalo. Bastava a "intermission" original, mas assim sempre se pode recarregar pipocas (arruinando a saúde e a paciência de quem quer ouvir o filme em silêncio).

A fotografia de 70mm dá outra dimensão ao épico (mesmo com a provável transferência para 35mm, no Mundial); conseguimos contar as rugas nos rostos dos personagens, observar os poros da pele, os pormenores do olhar, apreciar os detalhes dos requintados cenários, etc. A qualidade da imagem é irrepreensível (apesar das diferentes aberturas dos projectores, notórias na mudança de bobine, no Mundial). O som parece constrito. Mas deve ser porque o Mundial precisa de um upgrade.

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P.S.: Cuidado com o vídeo português! A Lusomundo cometeu mais uma heresia, e lembrou-se de editar a versão de duas horas, com metade da história. Ainda bem que se pode sempre recorrer a edições de importação.