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O Jogo/The Game
Realizado por David Fincher
EUA, 1997 Cor - 128 min. Anamórfico

Com: Michael Douglas, Sean Penn, Deborah Kara Unger, James Rebhorn, Anna Katerina, Peter Donat, Carroll Baker, Armin Mueller-Stahl, Charles Martinet, Scott Hunter McGuire, Jarion Monroe, Gerry Becker

Nicholas Van Orton (Douglas), um homem de negócios mal-humorado, acaba de fazer 48 anos, a mesma idade com que o seu pai decidiu suicidar-se. O irmão, Conrad (Penn), oferece-lhe um cartão de uma empresa chamada Consumer Recreation Services (CRS), uma aparente porta para um desfilar de emoções, através de um jogo tão obscuro que o participante nem sequer sabe qual a finalidade. Após longos testes de "admissão" ao Jogo, Van Orton é responsável indirecto pelo despedimento de uma empregada de restaurante, Christine (Unger), que segue para pedir desculpas. Os estranhos acontecimentos começam a manifestar-se, acompanhando o início do Jogo, em que os organizadores parecem monitorizar por completo a vida do participante. As linhas das fronteiras entre o real e a ficção tornam-se cada vez mais difíceis de distinguir.

Depois do excelente «Se7en», era grande a expectativa em redor do próximo filme de David Fincher, já considerado por muitos um "auteur" em potência, apesar da fragilidade de «Alien3», cujo principal pecado foi surgir na sequência de dois filmes superiores. Fincher tem algum talento em dirigir trabalhos com forte componente visual, como é o caso do filme anterior, um resultado do seu currículo, onde se inclui a passagem pela ILM de George Lucas que, entre outros trabalhos, lhe valeu o crédito da fotografia "matte" em «Indiana Jones and the Temple of Doom». Seguiu-se uma carreira de sucesso na direcção de video clips de intérpretes como Madonna, Aerosmith ou Paula Abdul.

«The Game» vem contrariar a carreira ascendente de Fincher. «Se7en», depois de «Alien3», representou um salto qualitativo espantoso e digno de louvor. Mas este «O Jogo» é um filme meramente artificioso, que se fica pela manipulação e pelas surpresas elaboradas, que acabam por ser um fim em si mesmo, ao invés de se preocuparem em integrar um argumento consistente. Não é que Fincher seja mau artesão. O filme vai-se construindo de forma atractiva, cativando o espectador, mas a certa altura opta-se por uma série de situações encadeadas, confusas e ilógicas, que sugerem que a tal CRS seja omnipotente, omnisciente e omnipresente (ou seja, Deus). Afirma-se e nega-se continuamente, confundindo o personagem e o espectador, que aguarda pacientemente a resposta à pergunta "mas para que serve isto tudo?" O final consegue o impossível: piora a irracionalidade. Para que tudo fosse plausível, a CRS precisava de ler o cérebro de Van Orton para poder colocar cargas explosivas nos locais por onde sabia que ele iria fugir, para simular os tiros da armas, alegadamente de pólvora seca. E, claro, para que o ridículo plano do 'X', próximo do final, pudesse fazer algum sentido.

É difícil que alguém se coloque na pele do personagem de Michael Douglas, mas não seria mais natural que este terminasse a descarregar uma automática, como munição real, naquela gente toda?

Se «The Game» serviu para alguma coisa foi para confirmar que «Se7en» é o resultado de vários ingredientes, como um bom argumento, de Andrew Kevin Walker (que aqui terá dado uma mãozinha - não creditada - a John D. Brancato e Michael Ferris, escribas do veículo de Sandra Bullock, «A Rede»), o design dos títulos de Kyle Cooper, o design de produção de Arthur Max, a direcção artística de Gary Wissner, os excelentes actores, etc. Fincher foi eficaz na coordenação. O problema aqui é o argumento que tem em mãos, que precisava de um exaustivo trabalho de reescrita, já que a premissa até é interessante.

**1/2
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