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L. A. Confidential
Realizado por Curtis Hanson
EUA, 1997 Cor - 138 min. Anamórfico
Com: Kevin Spacey, Russell Crowe, Guy Pearce, James Cromwell, Kim Basinger, Danny DeVito, David Strathairn, Ron Rifkin, Matt McCoy, Paul Guilfoyle, Paolo Seganti, Elisabeth Granli

Los Angeles, no início dos anos 50. As chefias das forças policiais (LAPD) desejam alterar a aura de corrupção interna que transpira para o exterior. Ed Exley (Pearce), é um agente que insiste fazer o que está certo, contrariando a tese dominante, enunciada pelo Capitão Dudley Smith (Cromwell), que, entre outras coisas, diz que se devem abater suspeitos, desde que se tenha a certeza que são culpados, quando seja impossível condená-los em tribunal. Bud White (Crowe) é o protótipo do polícia duro, que não hesita em espancar alguém, para obter uma confissão, e que tem especial aversão a homens que batem nas esposas. Jack Vincennes (Spacey) é consultor na famosa série de televisão «Badge of Honor», ao mesmo tempo que tem um acordo com Sid Hudgeons (DeVito), repórter de escândalos, nos termos do qual se prendem prevaricadores menores, desde que sejam estrelas de cinema ou TV, com grande acompanhamento mediático.

Uma situação de violência policial vai despoletar a ascensão de Exley, que testemunha contra colegas, o que o leva a ser odiado. Um crime sangrento, envolvendo a morte de um agente, vai originar uma investigação onde poderá estar envolvido o milionário Pierce Patchett (Strathairn), que dirige um negócio de prostituição com sósias de estrelas de cinema, onde se inclui uma Veronica Lake look-alike, Lynn Bracken (Basinger).

Curtis Hanson aceita o epíteto de "realizador de aluguer", com a maior das naturalidades. É a vida. Os seus anteriores trabalhos - «The Hand that Rocks the Craddle» (1992), com uma babysitter psicopata (Rebecca DeMornay) e «The River Wild» (1994), com Meryl Streep a praticar desportos radicais - foram um sucesso, e colocaram-no numa óptima posição para chegar à Warner Bros. com o projecto de adaptar um livro de 500 páginas de James Elroy, o que veio a fazer juntamente com Brian Helgeland. Hollywood não tem produzido filmes tão complexos e interessantes ultimamente, e não havia outra maneira de levar o projecto para a frente, senão com um grande orçamento. É difícil produzir um filme com 50 exteriores e 80 personagens com diálogos, a nível independente.

«L.A. Confidential» é um policial complexo e rico em pormenores. Os personagens de Spacey, Crowe e Pearce têm melhor caracterização que qualquer personagem principal de outro filme recente, com uma base semelhante, que, convenhamos, provavelmente teria apenas um detective e um ajudante engraçadinho. Aqui, os três são simpatizáveis, mas todos cometem os seus pecados, sem tempo para remorsos. E cada um segue os seus interesses privados. A complexidade da narrativa vai-se formando, à medida que cada um deles investiga, isoladamente, fornecendo os dados ao espectador.

A cidade de Los Angeles, no início dos fifties, é o pano de fundo do filme, mas Hanson e o cinematógrafo Dante Spinotti optaram por tratar o filme como se se passasse nos dias de hoje. Os anos 50 estão em pano de fundo, mas, à medida que a acção se desenrola, esquecemo-nos de que estamos a assistir a uma obra "de época". Já referido como marcando o renascimento do film noir, a realização talvez beneficiasse de um pouco mais de estilização, e menos sobriedade e contenção. Ou talvez não, porque este é, sobretudo, um filme que vive dos actores. O casting funciona extremamente bem, tanto ao nível de actores principais, como dos secundários. Basinger, no papel de prostituta e James Cromwell (ex-dono das costeletas mais rentáveis da história do cinema - o porquinho «Babe»), rematam um conjunto de boas interpretações, de onde DeVito não fica totalmente de fora.

Um dos grandes trunfos do filme de Curtis Hanson é a integridade dos personagens, nomeadamente dos três "principais". Mesmo que essa integridade não signifique sempre honestidade. Com algumas surpresas muito bem orquestradas pelo caminho, acção nos momentos certos, e desenvolvimento lógico durante toda a película, cada um deles alcança o seu destino. O final talvez denote alguma negociação. Mas, enfim, se todos eles negociaram, de uma forma ou de outra, porque não haveria Hanson de o fazer também?

****
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