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A Cerimónia/La Cérémonie Realizado por Claude Chabrol França/Alemanha, 1996 Cor - 111 min. Com: Sandrine Bonnaire, Isabelle Huppert, Jacqueline Bisset, Jean-Pierre Cassel, Virginia Ledoyen, Agnes Merlet
Sophie (Bonnaire) é contratada como criada por Catherine
(Bisset), que vive numa residência nas proximidades de uma
pequena aldeia, com o marido (Cassel) e dois filhos - um rapaz
adolescente (Merlet), e uma jovem de 20 anos (Ledoyen). Cedo a
família se apercebe que há algo que não é
muito normal no comportamento da nova criada; é perfeita
a cozinhar e a limpar, mas é muito pouco comunicativa,
não gosta da biblioteca e fica quase hipnotizada em frente
da TV. Antes deles, apercebemo-nos que ela não sabe ler,
por iliteracia ou disxelia - dillec - dislexia. Mas esse não
será o seu maior problema.
O distanciamento de Sophie vai ser condimentado pelo à-vontade,
por vezes ofensivo, de Jeanne (Huppert) - empregada dos correios,
talvez curiosa pelo correspondência alheia -, que cedo dela
se aproxima. As duas começam a encontrar-se frequentemente,
mas o trabalho de caridade para a Igreja não parece ser
motivado por motivos cristãos. Jeanne incentiva Sophie
a resistir ao "abuso" por parte dos seus patrões
aristocratas, que é algo que a própria filha da
família também estimula, num simpático gesto
de apoio às classes desfavorecidas.
Com o desenrolar do filme, agravam-se as relações
de tensão entre os "servos" e os "senhores",
e o culminar dos acontecimentos dá-se ao som de D. Giovanni,
de Mozart (em estereo).
O realizador descreveu «La Cérémonie»
como um filme marxista sobre a luta de classes. Mais alguém
identificou um certo pendor freudiano, com alguma razão,
já que tanto Huppert como Bonnaire foram protagonistas
de cenas dúbias no passado, envolvendo descendentes e ascendentes,
e em que "nada ficou provado".
Nestes termos, Chabrol consegue algo muito interessante: não
nos leva a tomar partido por uma das "classes". Ninguém
parece ter a razão do seu lado. Tanto nos irritam os aristocratas
como os proletários, e por isso quem precisar de personagens
por quem sentir simpatia para apreciar um filme, poderá
ter aqui um obstáculo. (Mas que Bonnaire e Huppert fazem
um casalinho engraçado, lá isso fazem).
A narrativa está razoavelmente bem construída, e
leva a um final que uns dirão que é previsível
e outros que é totalmente inesperado. Ainda assim, e voltando
ao estereo da ópera, parece haver aqui algo com pouco sentido.
Que rico aristocrata gravaria uma ópera de uma TV estereo
para um gravador portátil, usando um microfone no chão
da sala? Será forçar um pouco o desinteresse do
personagem por um sistema "normal" de gravação
directa? Compreende-se que, de outro modo, a "estética"
do fim teria de ser repensada. Um pormenor que poderia ter sido
mais cuidado.
Baseado no livro "A Judgement in Stone", de Ruth Rendell,
adaptado ao écran por Claude Chabrol e Caroline Eliacheff.
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