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Avaria no Asfalto/Breakdown
Realizado por Jonathan Mostow
EUA, 1997 Cor - 96 min. Anamórfico
Com: Kurt Russell, J.T. Walsh, Kathleen Quinlan, M.C. Gainey, Jack Noseworthy, Rex Linn, Ritch Brinkley, Moira Harris, Vincent Berry, Kim Robillard, Thomas Kopache, Jack McGee

Jeff e Amy Taylor (Russell e Quinlan) viajam desde o Massachusetts até à Califórnia, atravessando o deserto no seu Jeep, em rodagem e por pagar. A certa altura do percurso, o veículo parece desligar totalmente e um camionista (Walsh) pára para os ajudar, oferecendo boleia. Jeff decide ficar com o automóvel mas Amy insiste em ir até ao bar de estrada mais próximo, para poder telefonar chamando um reboque. Após muito esperar e resolver o problema do transporte, Jeff chega ao bar mas aí ninguém viu Amy. Aparentemente desapareceu sem deixar resto, e, desse modo, a polícia nada pode fazer.

«Breakdown» lida com uma história que muito facilmente se podia banalizar nos estereótipos e convenções de Hollywood. Simplesmente tal não sucede e Mostow consegue manter o material à superfície, conduzindo uma narrativa lógica a partir de uma situação que, como é apresentada, parece demasiado real e nos leva a recear certos veículos que connosco se cruzam nas estradas. Talvez não tanto como «Duel», um filme jurássico de Spielberg, mas a referência justifica-se porque existem vários planos em que há um camião por detrás de um automóvel com intenções muito negativas.

Outros filmes andaram em redores desta premissa. Desde logo, «The Lady Vanishes» (1938) de Hitchcock, com um registo evidentemente muito diferente, e mais recentemente - e talvez inspirando parcialmente «Avaria no Asfalto» - «Spoorloos/The Vanishing» (1988) de George Sluizer (co-realizador de «Mortinho por Chegar a Casa»), aclamado, aqui e ali, como uma obra-prima. Em 1993, o mesmo Sluizer, a soldo de Hollywood faria uma versão americana considerada, aqui e ali, como um insulto à inteligência e ao filme original.

Voltando a «Breakdown», há que referir que o argumento está muito inteligentemente escrito e que Mostow lida muito bem com o suspense, seguindo a máxima de Hitchcock em que se prefere criar tensão a orquestar surpresas. E "tensão" é algo que o filme transpira por todos os poros, transmitindo ao espectador (bom, aquele que esteja mesmo a ver o filme e não a terminar a conversa que começou na esplanada) uma sensação de opressão que provoca reacões físicas de desconforto. Kurt Russell está à altura do papel central, e o seu personagem não resultaria de outra forma (imagine-se se Stallone tivesse "apadrinhado" o projecto). Jeff Taylor é um homem normal, e desespera como provavelmente desesperariam muitas pessoas em circunstâncias semelhantes, e não desata a bater em toda a gente ou a provocar explosões expectaculares. Existirão alguns detalhes que poderiam ter sido evitados (por exemplo, porquê mostrar aquele objecto a flutuar no rio?), mas no global «Breakdown» é um grande thriller, um dos melhores dos últimos tempos.

As concessões talvez existam no fim, onde se exige um "climax", mas, felizmente, Mostow mantém tudo sob controle. Em relação ao final - que evidentemente não se revela - é curiosa uma afirmação de Roger Ebert, que em diversas ocasiões reclama contra a existência de filmes inteligentes na Europa e contra a redução mental dos filmes americanos, criticando a "escolha" do filme, e fazendo juízos morais, por tal ser contra uma certa convenção de Hollywood. Afinal decide-se ou quê? Parece que não relaciona a submissão do real ao moral, e da originalidade à convenção, como o maior problema do cinema americano comercial contemporâneo.

Escrito por Jonathan Mostow e Sam Montgomery.

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