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Antz - Formiga Z/Antz
Realizado por Tim Johnson e Eric Darnell
EUA, 1998 Cor - 82 min.
Com: Vozes de Woody Allen, Sharon Stone, Gene Hackman, Sylvester Stallone, Christopher Walken, Danny Glover, Dan Aykroyd,Jane Curtin, Anne Bancroft, Jennifer Lopez

Z (Allen), a formiga obreira mais insegura e filosofante de todo o formigueiro, questiona a sua existência enquanto parte de um colectivo, que parece ser tudo o que importa para os seus concidadãos. Um dia encontra-se fugazmente com a princesa Bala (Stone) e troca de lugar com Weaver (Stallone), o amigo soldado, para poder revê-la. Entretanto, o General Mandible (Hackman) tem planos para fundar uma nova sociedade, independentemente dos meios empregues para alcançar esse fim.

Se Woody Allen fizesse um filme de acção animado com formigas, deveria ser mais ou menos isto que sairia. Talvez com um pouco menos de acção e um pouco mais de diálogos. Como segunda longa metragem totalmente feita por computador, «Antz» antecipa-se cerca de um mês e meio a «A Bug's Life», com estreia marcada nos EUA na semana em que se escrevem estas linhas. Este marcará o regresso de John Lasseter, quatro anos depois do percursor «Toy Story», novamente com a chancela Pixar/Disney (espera-se que traga a curta-metragem «Geri's Game», vencedora de um Oscar, em anexo). Estes emparelhamentos de filmes (meteoros, vulcões e animação digital com formigas) são sempre nocivos para um dos filmes. Resta saber como se comportará o filme da Pixar ao estrear nos EUA com «Antz» ainda nos primeiros lugares do top das receitas de bilheteira.

«Antz», cujo espaço antes no 'Z' no título nacional é uma espécie de "não podemos esperar que o público entenda um título imaginativo" por parte da distribuidora, têm algumas vantagens em ser produzido pela Dreamworks SKG, ou melhor, em não ser um produto Disney, de onde se esperam as limitações habituais (comic relieves irritantes, história-padrão sem grandes surpresas), apesar do habitual apuro técnico. Com a entrada no mercado das grandes produções de animação por outras produtoras, talvez a estratégia do gigante se altere. A Disney, claro, cumpre a sua função de fazer filmes familiares, sobretudo para crianças, o que não obsta a que sejam moderadamente apreciados por adultos (qualidade da animação aparte). Ressalve-se o facto de «Toy Story» (1994) não ser propriamente um produto típico da Disney, não havendo razões para não esperar que «A Bug's Life» seja também um bom filme, com compromissos mínimos ao "sistema".

«Antz» funciona de forma oposta ao filme-padrão Disney; é escrito para adultos, com o cuidado de poder ser assistido por crianças pequenas. Por cá estreou apenas em cópias legendadas, aparentemente, o que pode iludir alguns progenitores (animação, maiores de 6,…), e forçar os restantes espectadores a ouvir as explicações aos pequenos durante a projecção de todo o filme. Apesar de tudo, há sempre quem proteste - no outro lado do oceano - perante palavras como "crap" ou "buzz off", as quais, no entanto, foram ultrapassadas por um determinado acto de "enrabichar" na tradução portuguesa. Mas não se ouviram petizes a perguntar aos pais qual o tipo do acto em questão (possivelmente porque não sabiam ler.) É sintomático que «Antz» seja um 'PG' nos EUA (classificação leve, mas a sugerir a atenção dos pais quanto a levar crianças pequenas) e que os filmes da Disney apontem sempre para um 'U' (universal, para todos).

Só a animação de «Antz» merece uma deslocação às salas de cinema, mas como já se sugeriu (filme de acção animado a la Woody Allen), o texto não decepciona. Há uma galeria de personagens secundários que enriquece imenso a narrativa, como o Coronel Cutter (Walken), o casal de vespas (Aykroyd e Curtin, que já se haviam encontrado previamente, e também numa forma não-humana, em «Coneheads», de 1993) ou o soldado Barbados (Glover). De um modo geral, é curioso tentar imaginar o actor por detrás do boneco animado, até porque não faltam tiques e trejeitos que os animadores procuraram inserir. O personagem que dará mais gozo ver e ouvir é o Weaver de Stallone. Stallone e Allen como amigos num filme de imagem real deveria uma curiosidade ainda maior. O papel de Michael Rapaport (Kevin, o boxer) em «Poderosa Afrodite» (1995) seria extremamente apropriado, se Stallone tivesse menos uns 20 anos (tendo em conta que em «Bananas», de 1971, marcou breve presença no corpo de um marginal brutamontes).

De uma forma leve e divertida, enquadram-se na narrativa algo linear as vantagens e desvantagens de alguns sistemas políticos modernos, numa metáfora à manipulação e ao seguidismo das massas que seria impossível de evitar em tal cenário. O formigueiro, nos espaço de alguns minutos, abraça os ditames do comunismo, fascismo, ou o que quer que lhes fosse apresentado, faltando uma ilustração de uma democracia parlamentar ou algo mais politicamente correcto (no sentido literal da expressão). Usar esta simbologia com o propósito principal de provocar algumas gargalhadas da audiência é o melhor que poderia ter sido feito.

***1/2
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