cartaz
comentários
coluna
secção informativa
favoritos
arquivo

index

Poder Absoluto/Absolut Power
Realizado por Clint Eastwood
EUA, 1996 Cor - 121 min. Anamórfico
Com: Clint Eastwood, Gene Hackman, Ed Harris, Laura Linney, Scott Glenn, Dennis Haysbert, Judy Davis, E.G. Marshall, Melora Hardin, Ken Welsh, Penny Johnson

Luther Whitney (Eastwood) é um brilhante ladrão profissional que aposta na pesquisa e no perfeccionismo dos seus assaltos. Durante um assalto à mansão - previsivelmente deserta - do magnata Walter Sullivan (Marshall), assiste, por detrás de um espelho, ao assassinato da jovem senhora Sullivan (Hardin), com o envolvimento de uma alta figura da nação. A equipa decide encobrir o caso, mas, por desleixe, o ladrão consegue apropriar-se da arma do crime e fugir, sendo perseguido por dois elementos dos serviços secretos (Glenn e Haysbert).

Dada a delicada situação, Whitney decide sair do país, procurando primeiro reconciliar-se com a filha (Linney). Os acontecimentos convencem-no a ficar, tendo que lidar com a perseguição policial chefiada pelo detective Seth Frank (Harris), bem com preocupar-se com as intenções dos agentes dos serviços secretos, coordenados pela chefe de gabinete Gloria Russel (Davis), além do desejo de seguir o Antigo Testamento por parte do viúvo Sullivan.

Clint Eastwood consagrou-se já como autor no meio cinematográfico americano, o que não o escusa de prestar tributo à indústria. «Absolut Power» poderá ser o reverso do excelente «Imperdoável», em que Eastwood também contracenou com Gene Hackman. É claro que Eastwood-Realizador dá muita atenção a Eastwood-Actor. O tempo do filme - duas horas - está principalmente maximizado para a exibição de Eastwood e para mostrar como Withney é muito inteligente e cheio de valores morais. Apresenta-se como um ladrão-gentlemen, pacífico e culto, e só o vemos a roubar os ricos - jóias e obras de arte -, para que possamos simpatizar com ele.

Assim, seria inevitável que algo se descurasse. Neste caso, todo o resto. Os restantes personagens carecem de desenvolvimento, e, muitas situações, por exemplo com Judy Davis e com Hackman ficam com contornos por delinear. Os executores de serviço são caracterizados q.b., com o habitual mau-mau e o mau-que-até-não-é-mau-de-todo, mas tudo o resto são linhas frágeis a coser os caminhos de Luther Whitney. Não se deixa, no entanto, de criar uma série de detalhes sugerindo uma narrativa complexa, o que vem piorar as coisas já que se deixam ainda mais pontos sem nó.

Os agentes dos serviços secretos, se queriam eliminar alguém, não precisavam de chamar a eles a responsabilidade da sua segurança. Não faz sentido, pois só serviria para levantar mais suspeitas, e teriam a mesma facilidade em completar o serviço, se o alvo estivesse debaixo da protecção de outrem, do mesmo modo que, facilmente, colocam escutas na polícia. Este detalhe serviu apenas para por o protagonista a correr para o local, ligando com a cena seguinte. Os buracos gigantes no argumento começam com a presença do assassino contratado no local do encontro. Como podia ele saber? Não através da polícia; não através dos agentes dos serviços secretos. Depois, a arma do crime vai ser entregue à polícia despoletando as prisões? Como surge nas mãos de quem surge no final? Não faz sentido. A pergunta de Eastwood "como podia ele saber que ela estava doente?" é ridícula. Como podia ele vir com aquela questão, naquele tom? Como se pudesse saber tudo o que dois conhecidos (Hackman e Marshall) dialogam na sua intimidade. O mais natural seria ele saber mesmo que ela estava doente, pelo próprio marido.

«Absolut Power» decide ficar-se apenas pelo entertaining. Mas, ao mesmo tempo, quer apropriar-se de uma aura de seriedade e de credibilidade que não consegue sustentar. Assim quase que era preferível um registo mais convencional de filme de acção, com mais tiros, sangue, perseguições de automóvel com grandes despistes, piadas estúpidas e uma cena de cama com música ambiente. Tecnicamente está bem feito, os desempenhos são razoáveis, mesmo dos actores que não têm tempo de se exprimir. Espera-se que Eastwood possa agora investir em algo com um cunho mais pessoal.

Uma tal de Alison Eastwood é uma das estudantes de arte.

images/frame.gifimages/frame.gifimages/meioframe.gif
classificações