Michael J. Bassett sobre «Deathwatch»

Em viagem e imerso "até aos olhos" em scripts e outros projectos,
o realizador Michael J. Bassett teve a gentileza de arranjar alguns minutos
para responder às questões de Cinedie, sobre o seu filme «Deathwatch».

Há momentos no filme em que se parece construir tensão, mas esta acaba por dissipar-se, sem que se chegue a um clímax correspondente. Segundo ouvi dizer, os produtores impuseram uma série de cortes. Haverá alguma relação entre uma coisa e outra?

Deathwatch
O actor Hugo Speer (que interpreta o Sargento Tate), ao centro, durante a rodagem de uma das muitas cenas enlameadas de «Deathwatch». Foto © Michael J. Bassett.
Em alguns aspectos estou muito contente com o modo como o filme resultou; nas performances dos actores, no aspecto visual e atmosfera, no subtexto. Mas estou menos satisfeito com o modo como representei a história em termos genéricos e com os momentos de “horror”. Em grande parte, podem culpar a minha inexperiência, cineasta estreante a trabalhar em condições muito duras. Mas foi crucial não ter tido o final cut e envolvi-me realmente em algumas discussões sobre o modo como a história deveria ser contada e como certas cenas vieram a ser apresentadas. É fácil, para mim, alegar que teria sido um filme melhor se o tivesse feito à minha maneira, mas não há nenhuma forma de o saber. Claro, eu teria que pensar que o resultado seria melhor, não é? No DVD vou incluir um par destes momentos, mas a maioria nunca verá a luz do dia.

Como era o fim original?

Não lhe vou dizer como era o final original. Basta dizer que pensei em várias ideias no local de filmagens, porque as circunstâncias mudaram enquanto estávamos a filmar, o que significa que não pude levar a cabo exactamente aquilo que tinha escrito. Quando voltei ao Reino Unido para montá-lo, descobri que nenhuma das opções era realmente satisfatória, face aos conceitos presentes no filme.

Devo dizer que estou verdadeiramente encantado com o final que o filme tem agora – faz uma síntese de todas as ideias e temas, ao mesmo tempo que lhe confere uma força emocional genuína.

Uma revista francesa refere que tinha concebido um final grandioso “a la Akira”. Não sei se tal se baseia nas suas declarações, mas gostava de saber se se trataria realmente de uma referência a incorporar em «Deathwatch» e se é apreciador de cinematografias asiáticas.

Não fiz nenhuma referência ao filme «Akira» em nenhuma entrevista, excepto se foi para dizer que não encaro a anime como um estilo. No que toca ao cinema asiático, estou apenas agora a começar a apreciá-lo. A cultura asiática tem um conjunto muito diferente de ideais e de normas sociais rígidas, que influenciam enormemente os filmes. Vi recentemente «Dark Waters», do qual gostei (ainda que seja um pouco lento para mim), e estou intrigado com «Audition» – que, mais uma vez, é lento e fora do comum. Mas, na perspectiva de um olhar para o interior de outra cultura, eles são fascinantes e tornam-se cada vez mais influentes.

25/03/03
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