Por vezes o hábito faz com que não liguemos muito a esta questão, porque, infelizmente, há muito que os filmes são tapados na TV nacional, impedindo-nos de os ver integralmente. Quando os canais privados surgiram, adoptaram o mesmo regime por mera imitação. (Houve uma altura em que a emissora pública ainda não os colocava no écran, e os primeiros eram simples e incolores.) A utilização de logotipos e inserção de caracteres é pois similar nos diferentes canais.
Para ilustrar o atentado às obras cinematográficas utiliza-se «O Terceiro Homem/The Third Man» (1949), o clássico filme de 2arol Reed, que passou na RTP2 em Maio de 1997. Este filme foi rodado num formato compatível com o da TV, por isso não há considerações de outra espécie a fazer.
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Num filme que enche o écran - principalmente um filme assim concebido - não é infrequente que logotipos grandes e opacos "censurem" o trabalho dos actores, permanecendo sobre o seu rosto. Obviamente também se está a arruinar o trabalho do realizador e do director de fotografia. Em «The Third Man» recorre-se muito a planos com grande profundidade de campo, por exemplo.
Por fim, os créditos. Felizmente este canal ainda os vai passando. Mas se é suposto que os leiamos, não se percebe muito bem porque é que os tapam. Se não querem que os entendamos, talvez - já agora - os devessem cortar. Sempre se poupava tempo. (Talvez alguém quisesse ouvir o "score" de Anton Karas, que é tocado sobre os mesmos; mas, mais pormenor, menos pormenor, o que interessa é apanhar a ideia geral do filme. Certo?)
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Oswald Haffenrichter não é um "2tor", nem T.S. Lyndon-Haynes um "2duction Manager".
Quem gosta de ver cinema na TV certamente não considera irrelevante que parte da imagem filmada seja arbitrariamente coberta por um quadrado opaco.
Soluções?
Remover logotipos, e não recorrer a qualquer inserção de caracteres (nos canais que fazem "partes") ou de símbolos durante a exibição de filmes.
É pedir muito?
Então concebam logotipos "compatíveis". Incolores, pequenos (mais extensão horizontal do que vertical, como seria lógico se houvesse interesse no produto apresentado) e - o mais importante - transparentes. O canal franco-alemão Arte dá um exemplo perfeito ao remover sempre o logotipo antes de apresentar um filme. E esse logotipo é, desde logo, pequeno e transparente. Todos os canais gostam de usar a "referência BBC", por tudo e por nada. Pois a BBC não usa logotipos. Começou a usá-los no serviço digital, mas, aparentemente, acabaram por ser removidos devido ao número de queixas (ora porque é que o espectador português tem critérios de qualidade tão diversos?). Algo semelhante sucedeu com o Channel 5, que mudou para um logotipo pouco obstrusivo depois de insistentes pedidos dos telespectadores. A ITV e o Channel 4 também não usam bonecos.
Os logotipos portugueses são os piores que se conhecem, em particular os da RTP. Basta comparar com o TNT, TV5 ou até mesmo com a RTL. O canal M6 também costuma remover o logotipo durante a exibição de filmes. A TV5 já o fez; aparentemente deixou de o fazer, mas, como se disse, o logotipo não é um quadrado colorido e opaco, como os da RTP.
Esta página não é anti-RTP, mas se há local que deveria ser a plataforma privilegiada para a existência de critérios de exibição de cinema (respeito pela imagem e som originais), esse local é a RTP2. De resto, o exemplo foi usado por uma questão principalmente prática, e não invalida que no futuro se utilizem outras fontes para ilustrar esta questão. De qualquer forma, de onde exigir mais senão do serviço público e do "canal da cultura"? Os logotipos da RTP sempre possuiram uma faixa preta na margem direita... para que a imagem não interfira com eles. Não deviam preocupar-se antes com a interferência dos bonecos na imagem? Não serão critérios de design a sobrepor-se a critérios editoriais, certamente. Por aqui se poderá ver o que é mais importante para o canal público. É mais importante dizer "estamos aqui" do que permitir o visionamento de obras cinematográficas nas condições que merecem.
Nota: com a mudança da linha gráfica da RTP, o logotipo do canal 2 reduziu razoavelmente o seu tamanho. No entanto, continuam a manter-se todas as razões de queixa aqui expressas. Bastava ver «1900», de Bernardo Bertolucci (28/11 e 5/12 de 98). Não só estava formatado para TV, com algumas cenas com personagens a falar fora da imagem (cortados), como apresentava alguns momentos em que os actores tinham o logotipo em cima da cara
As imagens são capturadas da emissão da RTP2 e o tratamento efectuado destinou-se apenas a melhorar a sua visibilidade. (Para além de alterar o brilho e contraste não se efectuou qualquer manipulação.)
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